Chávez diz que quer incluir a classe média em projeto socialista

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O presidente venezuelano Hugo Chávez disse que quer abrir seu projeto socialista para a classe média e para o setor privado da Venezuela.

Em uma entrevista por telefone para a televisão estatal, Chávez disse que está entrando em um período reflexivo de sua vida e que seu governo precisa convencer a classe média do país de que ela é necessária.

O presidente se recupera de um tratamento contra o câncer em Cuba, mas afirmou que pretende se candidatar à reeleição em 2012.

O comentário de Chávez aconteceu um dia após a celebração de seu aniversário de 57 anos, quando disse a seus partidários que não tinha pretensões de deixar a presidência no futuro próximo.

Durante a celebração, Chávez apareceu vestindo uma camisa amarela e disse que era preciso eliminar dogmas e acabar com o que ele chamou de abuso de símbolos, como o termo “socialismo”.

“Por que temos sempre que usar uma camisa vermelha? O mesmo vale para a palavra ‘socialismo'”, disse.

Lições cubanas

Na entrevista por telefone, na última sexta-feira, Chávez afirmou que o tratamento para a retirada de um tumor na região pélvica o levou a mudar radicalmente sua vida e entrar em um período “mais diverso, mais reflexivo e mais multifacetado”.

O líder venezuelano, que subiu ao poder em 1999, disse que o setor privado e a classe média eram “vitais” para seu projeto político e disse lamentar o fato de que suas tentativas de incluir estes grupos tenham sido criticadas por alguns oficiais do país.

“Raúl Castro está liderando um processo de auto-crítica”, disse Chávez, sugerindo que a Venezuela pode aprender com as reformas feitas pelo atual presidente de Cuba, que fez concessões ao setor privado após substituir Fidel Castro em 2006.

Segundo Chávez, o governo da Venezuela precisa corrigir a percepção de que pequenos negócios serão dominados pelo estado.

“Temos que garantir que ninguém acredite nisso. Temos que convencê-los do nosso projeto real, do fato de que precisamos desse setor e reconhecemos sua contribuição”, disse.

bbc.com.br

Três é demais.

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Com a nova emenda constitucional aprovada na Venezuela, Chavez já garante sua pré-candidatura para a próxima eleição. Seria a terceira.

Uma das maiores pedras no sapato do atual gestão dos países latinos, com certeza, é Hugo Chaves. Seus ideias nacionalistas partem para a radicalização de uma forma tão robusta quanto sua forma de posse. Praticamente com os principais meios de comunicação em seu poder, Chavez se vê em um caminho livre para ascensão de suas ideias para lá de controvérsias.

Essa questão de estender segundo mandato, para uma possível e nítida próxima gestão no poder venezuelano, já criou certos ventos pró por aqui no Brasil. Lula nunca negou sua intenção para terceiro mandato ou pelo menos sempre deixou claro entre as linhas. Porém uma coisa é certa: sua possível substituta já está criando asas e se construindo para uma possível candidatura. Não poderia deixar de ser outra, a não ser a ministra da Casa Civil, Dilma Rouseff.

Entretanto, são outros fatores que driblam esses ideias chavistas para terceiro mandato. Não será tão fácil assim como se vê.

Voltando a Venezuela, o caso é sério quando se olha a base de sustentação do governo Chavez. Grande parte da receita governamental na Venezuela é fruto do petróleo, e grande parte desta receita é caminhada a grandes projetos sociais que atingem diretamente essa extensa base de apoio popular à Chavez.

Porém, de julho de 2007 até o início deste ano, o preço do combustível sofreu uma queda de 70%, passando de 147 dólares a 35 dólares o barril. E isso pode acarretar uma serie de cortes de gastos o que pode abalar a possível ascensão de um novo poder Chavista para o próximo mandato.

Hugo Chavez sabe da importância destes projetos socias e o poder que ele exerce sobre a sua imagem de populista, assim como é por aqui também. Logo fará de tudo para manter as projeções do orçamento venezuelano em cima destes projetos populares.

Será uma tarefa pesada porém é uma das poucas ferramentas de manter sua imagem em pé por pelo menos mais 4 anos (seu tempo de mandato). Claro, fora os meios de comunicações estatizados e outros diversos fatores de controle que Hugo Chavez tem em mãos.

hugo-chavez

PACHECO,R.O.


2009

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E suas perspectivas.

O ano de 2009, que começa sob tanto medo econômico, pode ficar na História como aquele em que se evitou a repetição da crise de 29. Se evitar, acabará com saldo positivo. O ectoplasma daquele ano terrível continua entre nós, as bolsas estão em frangalhos, depois da enorme perda de valor de 2008, a indústria automobilística americana está por um fio, mas a grande vantagem é que o mundo já conhece 1929. Por que teria de repetir, 80 anos depois, a mesma tragédia? Os economistas sabem o que aprofundou a crise e o que funcionou no combate a ela. Se as decisões forem tomadas de maneira coordenada e sábia, pode-se evitar o pior.

O governo americano será inteiramente renovado. Há, primeiro, o efeito psicológico. A economia precisa da confiança das pessoas, e um novo governo é sempre uma injeção de ânimo. Que bom que as democracias acreditam em alternância no poder! Há também o efeito das medidas concretas que a equipe de Obama está preparando. Agora, o governo americano jogará no ataque, tentando criar empregos, aumentando os investimentos públicos.

Alguns países perderam poder de fogo com a queda do preço do petróleo, e isso poderá trazer bons resultados. A Venezuela chavista terá que conter sua política expansionista na região, que tem sido um fator de perturbação na área onde está o Brasil. Temos recebido respingos dos governos financiados e insuflados por Chávez. Agora, o caixa do grotesco caudilho está bem mais magro. Do outro lado do planeta, a Rússia também foi abatida pela queda dos preços do petróleo. A disparada do produto havia turbinado as pretensões militares do país, que começaram na Geórgia e iriam adiante. A idéia era recriar a Grande Rússia.

A crise do fim de 2008 encerrou o período dos delírios. No Brasil, a disparada irracional dos preços dos ativos em bolsa criou uma falsa impressão de empresas inatingíveis, fez surgir milionários que nada produziam, permitiu que empresas sem ativos se alavancassem no mercado de capitais. O aumento da arrecadação permitiu ao governo aprovar gastos irracionais. As descobertas do pré-sal, com o petróleo a US$ 143, levaram a arrogância petrolífera ao ponto do ridículo. As reservas cambiais recordes fizeram o governo apostar numa improvável blindagem contra a crise mundial. Prefiro o pé no chão, o preço real dos ativos, a consciência de que o futuro se constrói com muito trabalho e não golpes de sorte. O fim do ano foi um banho de realidade para um governo que estava sendo atacado por um perigoso surto de grandeza. O país entra em 2009 consciente das suas forças e fraquezas na dimensão exata que elas têm.

Como sempre na vida, o ano terá momentos difíceis e boas surpresas. Mas um ano em que os economistas apelidaram de “perdido”, antes de ele começar, tem a vantagem de um nível de expectativa tão baixo que qualquer ganho será valorizado. Não há dúvida que será um ano em que o mundo crescerá menos. Mas pode ser, também, o ano que lançará pontes para o futuro.

Fonte: Trechos de um texto publicado pela jornalista Míriam Leitão – O Globo Online.